19 fevereiro 2009

sexo com macacos

polêmica: demissão de professor de inglês no Distrito Federal motivada, sugere-se, por homofobia
fonte: globo / blog no ghetto em:
http://www.noghetto.caixadepandora.com.br/2009/02/18/demissao-professor-homossexual/
(fica a referência. ótimo blog)

o enredo em detalhes: nosso personagem, anti-herói naturalista e /ou mártir ultra-romântico (deveras tuberculoso), é (era) professor de inglês, e resolveu aplicar a seus alunos um exercício consistente em ouvir uma música enquanto se acompanha a letra impressa

até aí, nada novo nothing to see here move around

a música: i kissed a girl (kate perry)



a letra: http://www.lyricsmode.com/lyrics/k/katy_perry/i_kissed_a_girl.html
(...)
It's not what, I'm used to
Just wanna try you on
I'm curious for you
Caught my attention
I kissed a girl and I liked it
The taste of her cherry chapstick
I kissed a girl just to try it
I hope my boyfriend don't mind it
It felt so wrong
It felt so right
(...)


tudo o que aqui manifesto se funda no aparente, pois não pesquisei a matéria a fundo, e por mais que o faça, toda notícia vem sempre nas cores da sua fonte e esta é uma contradição fundamental (tal qual “por que um deus bom, onipotente e onipresente permitiria existir a maldade?”; ignorá-las é pré-requisito à manutenção da sanidade),

aparentemente, o teor da canção fez surgir uma controvérsia.
que foi levada à direção da escola
que se manifestou para que fosse mantido o exercício, porém alterada a música
o que foi negado pelo professor, insistente

que foi afastado em seqüência, sem contrato renovado ( = "demitido")



se me cabe,

penso ser correto justo ponderado e até por que não magnânimo pensar que a demissão se deu por descumprimento de uma ordem de superior hierárquico, e não necessariamente por motivos subjetivos

igualmente oquei para mim afirmar-se que, ao dar força às vozes que vestiram as lentes da inflamação homofóbica, e não da desobediência profissional, o tipo esvaziou e polemizou uma discussão estéril

mal influenciado pela imprensa faminta e voraz por polêmicas?
ânsia por notoriedade?

sinceramente, não penso que.


há formas diversas pelas quais se apresenta o preconceito. exímio figurinista.

melhor dizendo, maneiras inúmeras das quais fazem uso homens e mulheres contaminados pela cegueira que os leva a distinguir e classificar semelhantes.

não é raro testemunhar a inteligência sapiens sapiens apelar, e o golpe é baixo, a instrumentos de ocultação das verdadeiras intenções do discurso

figuras de linguagem como os eufemismos (“não é chegado”), metonímias (“aids é coisa de bicha”) e metáforas veladas (“esse pitbull é lessie”)

ou ainda desvios de personalidade e discurso, como a hipocrisia e a demagogia


quero dizer,

uma das maiores formas de homofobia – e isso tudo é minha opinião pessoal e leiga, não está em livros nem possui distintas honras – é a condenação politicamente correta da discussão homossexual, ou sexual de qualquer forma.

pois ao alegar-se uma inadequação contextual e ética, pretende-se na verdade impor, dissimuladamente, os seculares costumes cristãos / religiosos e reacionários

como se, à semelhança das explorações espaciais ou cirurgias cerebrais ou missas, houvesse em algum lugar algo escrito que determinasse, intransigentemente, possuirem certas pessoas e personagens sociais o poder exclusivo de abordar certos assuntos


anterior ao próprio pensamento, e em todos os meios impregnado como a sarna, este algo que devemos sempre combater e que chamo aversão-à-tolerância-sexual.


pois mencionar que há homens que fodem homens e mulheres que fodem mulheres e homens e mulheres que transam homens e mulheres deverá mesmo ser algo tão incongruente com a boa ética da sociedade, e chocante e repulsivo e necessariamente difícil e repugnante e polêmico que requeira especiais interlocutores, especiais momentos reverências e formalidades e ritos solenes?

pois não é bem esta a repressão a gerar as mais profundas neuroses, o silêncio que alimenta à mente humana estupros, exploração sexual, discriminação e violência?

"Será que era “realmente” necessário utilizar uma música que, além do aprendizado, traz uma temática que já é, no mínimo, polêmica para os estudantes? Afinal, a aula era de inglês ou educação sexual?
(...)
Não acredito que a melhor maneira de oferecer uma educação livre de preconceitos seja “escrachando o mundo” para pré-adolescentes. (...) Não cabe a um professor de inglês discutir orientação sexual em sala de aula."


especificamente, me incomoda não o texto ou a intenção, mas este desvio de abordagem, esta possibilidade desperdiçada e negada de evolução ainda maior à idéia e ao tema.

para mim, qualquer um pode abordar a sexualidade.
vem estampada nos menores atos.

faixa etária?

outdoor; homem e mulher dividem um sofá semi-dobrados, suados; outro em que a moça de biquíni e óculos escuros fita o horizonte enquanto o moço de sunga a observa em perspectiva

novela; rapaz era bicha, mas melhorou e pegou a débora secco; cinema, big brother, mtv ou até, veja!, capas de revistas

ou talvez a barbie e o ken (e já repararam no tamanho das roupas nas bonecas de uns 10 ou 15 anos pra cá?) ou a carla peres ou o orkut ou o vídeo do boiola do fresno no youtube ou o pânico ou os mamonas assassinas ou o baile no programa da xuxa,

tudo é sexual.
em todas as idades!
casais amores apelo desejo
vontades
vontades
vontades


salvo exceções gritantes, e a meu ver uma aula de língua estrangeira para adolescentes não se trata necessariamente de uma exceção gritante, qualquer pessoa deveria a qualquer momento poder abordar a sexualidade.

somos existências essencialmente sexuais, preocupadas ao menor movimento dos dedos com elementos oriundos ou destinados ao sexo.

é algo que nos marca sem que pensemos ou exerçamos qualquer racionalidade,
instintos.

freiras e padres têm libido.



todos nós em maior ou menor proporção já estivemos na situação de falar a um público, e ao ler a notícia me perguntei de imediato - quem saberá o quanto aquilo era apropriado ou não?

obviamente, e já mencionado, toda notícia já nos chega filtrada pelo pensamento de alguém (vide "bíblia sagrada", vols. I e II)

e assim já chegou ao escritor a quem me conecto agora em resposta

e assim desde tempos imemoriais é e será,

mas

será que a questão sexual não havia sido abordada antes?

não seria aquele um tema já recorrente àquele grupo de pessoas? um assunto em voga, coerente com o meio?

não teria aquele indivíduo praticado, de fato, pedagogia?

fosse uma malemolente canção heterossexual de elvis presley, estaríamos a discutir o assunto? sob os mesmos parâmetros?

não.
seria outra a discussão.

o que deixa bem claro o elemento sexista no evento, cuja natureza primeira foi a de incidente trabalhista, mas cujos desdobramentos posteriores denotam clara manifestação de aversão ao homossexualismo.



conheço, não ignoro as limitações do mundo real

mas penso que, à parte as palpáveis concretas ponderadas possibilidades, devemos sempre buscar o ideal

e no mundo ideal, qualquer um falaria de sexo, a qualquer hora, qualquer que fosse o interlocutor

como em velórios falamos de futebol.
(e não necessariamente concordamos)

5 comentários:

Giu disse...

biba punheteira

rafael gregorio disse...

hahahaha

Giu, sempre construtivo.

MaxReinert disse...

Concordo que "no mundo ideal, qualquer um falaria de sexo, a qualquer hora, qualquer que fosse o interlocutor" ... e, sinceramente, não tenho nenhum pudor em falar de minha(s) sexualidade(s) .. mas quando o assunto surge, naturalmente!

Da forma como vi a entrevista e a notícia, me pareceu tudo meio forçado!!!


PS: Coisa boa ver algo escrito por mim reverberando por aí.. ou nocaso, aqui! Abraço!

Anne Galvão disse...

surte sempre(!)

Anônimo disse...
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