nesta noite
deparei-me a ler surpreendentes palavras
familiares como cada um dos meus medos e manias
e ao mesmo tempo completamente alienígenas
como cada um dos seus;
palavras minhas
pouco mais de um ano de idade, e oh deus
para onde foi o beija-flor? para onde foram as prostitutas viciadas?
perguntas, perguntas
e saiba que poucas pouquíssimas vezes escrevi como agora: respondendo aos questionamentos ansiosos do mundo inteiro, olhos nas teclas. sem me importar comigo ou com você ou com eles todos. eles lá fora. os empregos. os teus sonhos frustrados, os meus. nas paredes. a aparência das palavras, a riqueza da imagem, sintaxe, concisão, figuras de linguagem ultra-modernas e planas e o que se quer dizer logo na cabeça do texto,
não sou webwriter
escritor jornalista poeta letrista,
não sou sequer alfabetizado
escrevo porque doeu
como o bebê que chora de fome sem saber da fome ou do choro uma pista,
um nome
escrevo também para dar nome à dor
pois é preciso movermo-nos
e depois escrevo para parar de doer
e aí me perco
assim como personagens planas trilham seus destinos e na trama há sempre um algo menos separado às personagens planas, elas simplesmente seguem como gado rumo ao abismo pela obscena falta de um grito de alerta
eu me questiono.
do trânsito do ermitão da professora das questões mais cruciais e dos desejos condenáveis
queda-livre
gritos
raios
borboletas
e alienígenas
os que faltam, os que sobram
kama sutra
lua cheia
na praia
e lua cheia em Teerã
e a transcendência que certamente é morrer e nascer
me transborda.
faz de mim um rio de seca
uma lama, uma lama
me questiono sobre a influência do psicólogo
ou do último emprego
ração e salvação convenientes por demais
eu temo ter permitido enjaularem em técnica e métodos laborais o fogo que me consome
mais que permitido: pedi por isso.
não agüentei a mim mesmo
covarde. covarde.
eu sei e me basta
explicar é um direito
o silêncio também
não preciso que me entendas
não preciso sequer que existas
tampouco preciso de mim;
preciso mesmo é voar
e fumar um cigarro
nascer morrer chorar sorrir transar deitar
e deitar na grama
e apenas e tão somente escutar
atento e puro
a consciência lentamente tocar sonoro o silêncio que grita
em língua estranha
lasciva e suja e áspera e violenta e que nunca ouvi mas à qual lhe reconheço moção do verbo, entonações e trejeitos de intenção verdadeira:
- eu voltei.
2 comentários:
“You cannot find peace by avoiding life.”
v. woolf
Quase um sinto, logo escrevo.
Demás.
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