10 agosto 2009

nesta noite

deparei-me a ler surpreendentes palavras

familiares como cada um dos meus medos e manias

e ao mesmo tempo completamente alienígenas

como cada um dos seus;

palavras minhas

pouco mais de um ano de idade, e oh deus

para onde foi o beija-flor? para onde foram as prostitutas viciadas?

perguntas, perguntas

e saiba que poucas pouquíssimas vezes escrevi como agora: respondendo aos questionamentos ansiosos do mundo inteiro, olhos nas teclas. sem me importar comigo ou com você ou com eles todos. eles lá fora. os empregos. os teus sonhos frustrados, os meus. nas paredes. a aparência das palavras, a riqueza da imagem, sintaxe, concisão, figuras de linguagem ultra-modernas e planas e o que se quer dizer logo na cabeça do texto,

não sou webwriter

escritor jornalista poeta letrista,

não sou sequer alfabetizado

escrevo porque doeu

como o bebê que chora de fome sem saber da fome ou do choro uma pista,

um nome

escrevo também para dar nome à dor

pois é preciso movermo-nos

e depois escrevo para parar de doer

e aí me perco


assim como personagens planas trilham seus destinos e na trama há sempre um algo menos separado às personagens planas, elas simplesmente seguem como gado rumo ao abismo pela obscena falta de um grito de alerta

eu me questiono.

do trânsito do ermitão da professora das questões mais cruciais e dos desejos condenáveis

queda-livre

gritos

raios

borboletas

e alienígenas

os que faltam, os que sobram

kama sutra

lua cheia

na praia

e lua cheia em Teerã

e a transcendência que certamente é morrer e nascer

me transborda.

faz de mim um rio de seca

uma lama, uma lama

me questiono sobre a influência do psicólogo

ou do último emprego

ração e salvação convenientes por demais

eu temo ter permitido enjaularem em técnica e métodos laborais o fogo que me consome

mais que permitido: pedi por isso.

não agüentei a mim mesmo

covarde. covarde.

eu sei e me basta

explicar é um direito

o silêncio também

não preciso que me entendas

não preciso sequer que existas

tampouco preciso de mim;

preciso mesmo é voar

e fumar um cigarro

nascer morrer chorar sorrir transar deitar

e deitar na grama

e apenas e tão somente escutar

atento e puro

a consciência lentamente tocar sonoro o silêncio que grita

em língua estranha

lasciva e suja e áspera e violenta e que nunca ouvi mas à qual lhe reconheço moção do verbo, entonações e trejeitos de intenção verdadeira:


- eu voltei.

2 comentários:

phant disse...

“You cannot find peace by avoiding life.”

v. woolf

Ana Lins disse...

Quase um sinto, logo escrevo.
Demás.