14 fevereiro 2011

sobre o bom gosto

muitas vezes me pego a pensar nos desatinos da contemporaneidade. dos meus temas prediletos, já deves saber, pois tergiverso. repito-me sem pudor. dos tempos modernos emergem postulados: liberdade democracia amor livre acesso interatividade espontaneidade eternidade euniversia. ainda que ninguém os entenda em verdade. de tudo se sabe e não são poucos, de tudo um pouco e sabe-se lá. digo-lhe, bastante cansado, que neste cenário despontam roteiros, personagens, heróis advérbios e fáceis e cômodos vilões adjetivos. dentre eles, banhado a ouro, o bom gosto. referenciar tornou-se já mais valioso do que a própria referência. portas se abrem ou se fecham conforme a nobreza da menção, da conveniência, da amizade. veja, é natural, temos somos vemos e principalmente sentimos em excesso. a esta festa seria talvez injusto convidar a ponderação. porém, como em tantas outras analogias, o demais reduz-se a nada, o tudo a pouco. e assim é que vejo destacarem-se, como se legítimos representantes de um saber maior, gentes que nada são além de eficazes indexadores. não criam, pouco refletem e em nada aceitam riscos: só lhes vale o que reluz e brilha. tesouros e unanimidades. eu lhes diria, um tanto cansado, que o gosto não dignifica, que admirar o admirável é bastante prosaico e redutor. com um mínimo esforço, qualquer um é capaz de apreciar a beleza do que já belo subsiste. ordinária e banal como a mais baixa fisiologia. difícil mesmo, deveras especial e raro no sentido estrito é apreciar a beleza no feio, o risco no simples, o brilho no tosco ignorado. aí, meu chapa, reside a verdadeira coragem.

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