honestamente, me impressiona a facilidade com que nos esquecemos de quem somos.
aquilo que nos fizeram capazes a inteligência a alma
e o indizível imponderável que concordamos nomear por coração
contra todas as adversidades e contextos
um homem foi eleito
a par da urgente necessidade de novas postura e visão de mundo,
um homem bom.
alguém que traz na pele a herança viva de nossa desumanidade
mazelas, injustiças, preconceitos
trincheiras morais que nos fazem mamíferos calculistas,
mas é também o homem bom um sinal dos tempos
símbolo maior do ser humano
sendo, de fato
humano
e forte
e forte
digo não à premissa reconfortante de fraqueza e mesquinhez da qual revestem-se as trilhões de letras mortas que compõem surdas-mudas um pronome:
eu
eu
eu
e o dizem, igualmente, tantas outras pessoas mundo afora a festejarem
tímidas
envergonhadas, de fato, um tanto quanto encabuladas
como criança espantada diante do orgasmo,
as pessoas que agora festejam uma aurora possibilidade de sermos humanos melhores e mais justos gritam felizes: - nós, nós, nós!
nós.
nas novas gerações (e por decorrência fashionista também nas velhas), predomina hoje a cultura do universo privado
somos seres que desdenham do contato e da compreensão e que, pelo contrário, mergulham rumo a si mesmos em busca da panacéia
e aquilo que outrora se chamou pejorativamente egocentrismo, é hoje endeusada auto-suficiência
o culto ao privado, particular
meu blog meu orkut meu twitter minha banda meu trabalho meus horários meus problemas
meus
princípios
meu
orgulho
minha dor
de tal forma que, ao desmaiar-se a luz do sol em noite, importa muito mais na vida a minha minha minha cuidadosamente arquitetada imagem hype anglo-decadente e blasé
do que o que realmente sou,
que triste.
muito maiores.
deveras mais que esparsos e isolados universos privados conectados apenas por bits,
pobres labirintos previsivelmente planos
encharcados em rancor e soberba
epidêmico hipnótico culto à indiferença, ao egoísmo e ao desapego
e ainda assim, um homem bom se destacou.
registro improvável das infinitas possibilidades impossíveis
(especialmente as mais paradoxais)
alçado aos céus e aos verdes vales da nação-modelo
que às custas de pólvora petróleo e sangue indígena e negro patenteou um sistema de poder, chamou-lhe uma alcunha grega
(provavelmente furtada dos livros de história e filosofia da biblioteca particular de um magnata)
vendeu-lhe aos quatro cantos do planeta
com
lucro
e neste país supostamente livre
inteligências há muito amordaçadas se permitiram a horripilante subversão de ponderar medos históricos
e uma vez iniciada a queda livre, deixaram permearem-se suas almas da doçura inocente dos que crêem cegamente em algo
maravilhando-se tais homens e mulheres
passo a passo
à descoberta de pegadas num caminho inexorável
inarrável,
impossível.
sonhamos algo bom.
o instante foi quente demais para dele demover-lhe o coração ou a razão, apaixonados pela idéia de um mundo melhor,
e que se foda a sensatez!
que se fodam a lucidez a adequação os pés-no-chão e todo e qualquer eufemismo destinado a esconder nossa covardia,
esteve tudo, sempre, em nossas mãos.
tudo.
sempre.
se antecipar em pessimismo a escuridão e o fracasso moral do ser humano não é e nunca foi uma opção
mas sim desesperada a falta delas todas,
que amanheça um mundo diferente
pois já não somos o que éramos há algumas manhãs.
não há porque temer a utopia.
há flores nas janelas das casas
sorrisos nus à porta das almas
um mundo novo e diferente em cada um dos euniversos espalhados pela quinta-feira do fim dos tempos
que hoje acordam
e cantarolam
em tons de nova bossa velha
que é de graça alimentar idéias púrpuras de pacífica (r)evolução.
Um comentário:
Obama ou Cleyton, o homem bom existe em algum lugar. Excelente texto. Salud.
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