23 julho 2010

a confraria da poesia sintética
ali se encontravam os xamãs do sublime pós-moderno
reverendos da beleza estética e moral da espécie a debater provar traçar decidir
com quantos paus se fazem canoas
amores, sonetos
os caminhos que levam
suspiro a hai kai
os confrades eram todos descolados. homens e mulheres cheios de reputação seguidores referências e fervorosa crença em deus
o deus mercado
o deus portátil
dos breves prazeres rasos e fluidos
os poetas sintéticos valorizam o curto
determinismos, trocadilhos
conflitos bem resolvidos e tiradas de humor publicitário
e mesmo no ardor do delírio mais febril, impecáveis acenos frios e praticidade antenada
poetas sintéticos não toleram incertezas
o que tiver de ser que seja
em três ou quatro
parágrafos
de razão fácil
conceitos absolutos
amém

à nobreza superficial das frases feitas, fortalezas e castelos

e mesmo assim
nas noites frias de inverno
um ou outro confrade se perde em mata aberta
entregue ao vinho, magoado
questiona o criador sobre as más sortes...

boatos da boca pequena.
os poetas sintéticos são lógicos
desapegados, racionais
não se permitem luxúrias tortas
não se permitem luxúrias tortas
sacerdotes das citações
dos traçados
das fronteiras
e definições
que nos distinguem
eles
de mim
que divago

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