“As atuais formas poéticas quase nunca atingem um público extenso”
e aí que despretensiosamente galgando links com as mais interessantes notícias da ensurdecedora manhã de quinta-feira, me deparo com artigo no site do Terra Magazine (adequados, aliás, sonoros elogios) sobre um certo Antonio Candido, agraciado por um tal prêmio ‘Juca Pato – Intelectual do Ano de 2007’
atraíram-me aos olhos a atenção – confesso – as seguintes chamadas, vestidas para matar:
“Estou fora do tempo”
“Antonio Candido: ‘preservo convicções socialistas’”
previsível o efeito chamariz sobre esta minha pobre influenciável inteligência maravilhável com toda e qualquer subversão.
apertos no mouse em ânsia furiosa, mal-acostumado que sou a arroubos de honestidade, discernimento, auto-conhecimento e coragem ideológicas desta espécie, em tempos tão modernos e ultra-capitalistas e photoshópicos
tempos que sepultaram todos e quaisquer romantismos e ideologias
se sonhar é uma desatenção
perda de energia e de tempo
vai contra
a
otimização
(da força de trabalho)
sob as rígidas regras marciais das auto-ajudas, do politicamente correto e da super-informação
prenuncia ao desertor
o fracasso
tempos em que cifrões ocidental-globalizados podem comprar o comunismo chinês, negar-lhe amarga uma memória centenária de humilhações e, especialmente, apagar do plano da existência o Tibet e tantos outros absurdos e afrontas à dignidade humana no mais populoso país do planeta Terra
tudo em nome de um espírito esportivo capitalizado, irmandades mercantis
uma celebração vazia de nossa própria solitária hipocrisia
porém, por difícil que seja, cumpre-me seguir um raciocínio (minimamente) linear,
eu poderia falar mais sobre Antonio Candido.
cientista social e quase advogado (salvou-se por pouco...)
intelectual integrado ao contexto do movimento modernista em sua vertente paulistana vanguardista durante a juventude, na primeira metade do século passado
ativista opositor das ditaduras Getulistas no Estado Novo, socialista no pós-2a Guerra, inimigo feroz do nazismo e dos regimes totalitários em geral
um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores na década de 70 (quando este ainda representava um genuíno sonho de ideal socialista), em plena ditadura militar
crítico literário habilidoso, mais notório pela obra 'Formação da Literatura Brasileira'
professor de literatura brasileira e sociologia por mais de 40 anos
poeta iluminado..
,
mas seriam apenas especulações.
fantasias.
expectativas inatingíveis, sem pai nem mãe, quando não explícitos estouros ególatras, frutos de furtos da genialidade alheia
sabem bem... hoje em dia é tão comum.
– ser hype? fale de algo ou alguém que ninguém sabe, ninguém viu. extraia do ídolo e do tema dos seus fios de cabelo às marcas na alma e, pronto!, serás uma celebridade!
não.
acabo de tomar conhecimento da pessoa. não nego.
estou alguns poucos pobres passos apenas à frente daquela primeira menção da qual nosso cérebro é capaz de fazer valer-se, enciclopédicamente, em arquivo e registro por anos a fio sem qualquer maior profundidade temática
prefiro dividir com os meus a porta que encontrei
entreaberta,
esta.
lição aprendida em um despretensioso e distraído parágrafo pela manhã
tão somente um parágrafo de um discurso de agradecimento solene pelo prêmio recebido
uma aula
sintética
sobre princípios
amores
vida
vitórias e derrotas
e
especialmente,
sobre a fé
do ser humano
no ser humano
enjoy.
“O que estou dizendo se refere cronologicamente aos anos de 1940, isto é, mais de meio século atrás. Portanto, os generosos confrades da União Brasileira de Escritores foram buscar um intelectual bem antigo, bem fora do tempo, para confortá-lo com esta distinção consagradora. Devo ser de fato tão antiquado, que venho sendo definido em algumas instâncias como "ilustrado", devidamente entre aspas, e como alguém preso a uma visão de tipo teleológico da história e do pensamento. Devo esclarecer que, ao contrário do que se poderia pensar, considero esta restrição um elogio. Ela quer dizer que me mantenho fiel à tradição do humanismo ocidental definida a partir do século XVIII, segundo a qual o homem é um ser capaz de aperfeiçoamento, e que a sociedade pode e deve definir metas para melhorar as condições sociais e econômicas, tendo como horizonte a conquista do máximo possível de igualdade social e econômica e de harmonia nas relações. O tempo presente parece duvidar e mesmo negar essa possibilidade, e há em geral pouca fé nas utopias. Mas o que importa não é que os alvos ideais sejam ou não atingíveis concretamente na sua sonhada integridade. O essencial é que nos disponhamos a agir como se pudéssemos alcançá-los, porque isso pode impedir ou ao menos atenuar o afloramento do que há de pior em nós e em nossa sociedade. E é o que favorece a introdução, mesmo parcial, mesmo insatisfatória, de medidas humanizadoras em meio a recuos e malogros. Do contrário, poderíamos cair nas concepções negativistas, segundo as quais a existência é uma agitação aleatória em meio a trevas sem alvorada.
É com este espírito talvez obsoleto de velho intelectual participante, como se dizia naquele tempo, que aqui estou para agradecer de coração esta desvanecedora homenagem.“
mais em:
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3118897-EI6581,00.html
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3118896-EI6581,00.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Candido
6 comentários:
entao mano, era disso que eu tava falando. quando falamos sobre o pos-modernismo fica exposto a grande conformidade da nova era que nos impede ate de sonhar ou o grande poder de ter utopias. as vezes voce vai pro trabalho, tem um dia foda e quando vc vai dormir vc AINDA sonha com o trabalho é como se tirasse aos poucos ate a capacidade de sonhar e de ter possibilidade de viver outra realidade como algo bom. parece que sempre estamos a um grande passo de um buraco extremamente negativo que logo vai tirar toda nossa vontade de viver, ja nao basta a grande tendencia quase inevitavel da auto destruiçao que de certa maneira acompanha, mesmo sutilmente.
é bizarro. extremamente bizarro.
temos que continuar sonhando e acreditar em coisas realmente boas por mais que o mundo caia em nossas costas.
sobre o texto do antonio candido.
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